O dançarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus resumiu bem seu sentimento no enterro do filho Carlos Eduardo: “Não tenho o que falar nessa situação. É um momento duro, difícil. Uma dor muito grande”.
Já vi pais baixando o esquife de seus filhos. Filhos levando seus pais ao cemitério. Cônjuges igualmente. Perder quem a gente ama é, disparado, o momento mais difícil e doloroso a ser enfrentado.
A morte é a maior prova de onde os esforços humanos conseguem chegar. Deus não criou o homem para a morte, mas este a escolheu ao desobedecer a seu Criador. Desde então, nem o mais ilustre cientista conseguiu criar um antídoto para esta desgraça.
A dor da partida, a ruptura da convivência e a solidão que permanece são dores que as palavras não amenizam. Fale-se o que quiser, a ferida incomoda. Por muito tempo.
Talvez seja por isso que a fé cristã não oferece [ou não deveria oferecer] chavões ou fórmulas mágicas para um coração que sofre. Antes, nos leva a dar o ombro e chorar junto.
Eu sei. O apóstolo Paulo falou que a morte já está vencida por Jesus e que nós ressuscitaremos no último dia. A ruptura é temporária. Para aqueles que depositam em Cristo a razão da sua vida [e da sua morte], o quadro em mente deve ser aquele do próprio Salvador saindo do cemitério na rocha. Tudo verdade. Mas estou falando do aqui e agora. Da nossa vida debaixo da cruz. Da caminhada pelo deserto rumo à terra prometida. Enquanto esse dia não chega, vamos enterrando nossos queridos e, sem demora, precisamos ir em frente.
É nessa caminhada, então, que a mensagem cristã, com a doutrina da ressurreição e da vida eterna, nos dá um ingrediente que, embora não tire a dor, pelo menos nos faz prosseguir. É o ingrediente da esperança.
Ao escrever para os cristãos de Tessalônica, o apóstolo Paulo expressa seu desejo de que eles “não se entristeçam como os outros que não têm esperança” (1 Tessalonicenses 4.13). Ou seja, ficar triste é absolutamente normal. Não consigo enxergar a fé cristã do ponto de vista de alguns que se acham super-heróis, à prova de qualquer bala. Derramar lágrimas faz parte desta peregrinação. Mas o que não dá é ficar triste como se tudo fosse o fim. Simplesmente porque não é o fim.
Melhor, então, que qualquer discurso é aquela cena registrada por João no evangelho. Jesus soube da morte de seu amigo Lázaro e foi até lá. Quando viu Maria, irmã de seu amigo, aos prantos, Jesus não escondeu seu sentimento e... chorou. Tamanho foi este gesto de amor que alguns judeus que ali estavam disseram: “Veja como ele o amava” (João 11.36).
Esse é o nosso mais fiel retrato no vale da sombra da morte deste mundo. Especialmente quando o vale da sombra se transforma no vale real da morte.
Mas também este vale vai ser transposto.
Por isso, caminhe e olhe para cima com esperança. De lá virá Aquele que é maior do que a morte. Que ressuscitou Lázaro. Que ressuscitará a todos. E que levará para junto de si aqueles que viveram, em fé verdadeira, ao Seu lado.
É então que a esperança se tornará realidade.
P. Jílio Jandt
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