sábado, janeiro 30, 2010

“A alegria do SENHOR é a vossa força”

“A alegria do SENHOR é a vossa força”
Sl 19.7-14; Ne 8.1-10; 1Co 12.12-31a; Lc 4.16-30

P. Élvio Nei Figur – 23/01/10
            No texto de Neemias oito, a CENA que se vê, é a figura de Esdras – sacerdote e mestre da lei – em pé sobre uma plataforma de madeira, lendo para o povo em voz alta, “desde o nascer do sol até o meio-dia” (Ne 8.3) o livro da Lei de Deus...
         A primeira vista se trata de uma cena comum... Uma cena simples e corriqueira; um sacerdote sobre um púlpito de madeira... No entanto, observemos que o episódio descrito ocorre após uma árdua tarefa liderada por Neemias; O trabalho de consertar o muro da cidade de Jerusalém que havia sido destruído pelos inimigos juntamente com boa parte da cidade... O cenário anterior ao do texto lido era catastrófico; Pedras e Entulhos era o que havia sobrado da cidade de Jerusalém... Uma cena que, inevitavelmente, lembra a destruição de um terremoto...
         Mas agora o cenário está mudado. Os judeus, enfim a salvo dos inimigos e protegidos pelos muros da cidade, se reúnem diante dos seus líderes com a esperança de recuperar a identidade nacional. Na posição de líder espiritual, Esdras toma a palavra e lê, diante da multidão, um documento que, naquele momento, já tinha quase mil anos de idade; o livro que contém a aliança original dos israelitas com Deus.
         À medida que Esdras lê palavras tão antigas, um ruído de choro começa a se ouvir, espalhando-se por toda a multidão. O texto bíblico não esclarece o ‘porquê’ daquele pranto... Apenas diz que; “Quando ouviram a leitura da Lei, eles (o povo) ficaram tão comovidos, que começaram a chorar” (Ne 8.9). Não sabemos se era porque os israelitas tinham saudades dos dias privilegiados quando Israel desfrutava de plena liberdade, ou se as pessoas se sentiram culpadas pelos longos anos em que descumpriram a aliança que haviam feito com Deus... Qualquer que tenha sido a razão daquele pranto, não é mais tempo para lágrimas. È sim, tempo de alegria. E é isso o que Neemis, o governador, e Esdras, o sacerdote lembram ao povo; “Este dia é sagrado para o SENHOR, nosso Deus, e por isso vocês não devem se lamentar nem chorar” (Ne 8.9b). Deus quer alegria, e não pranto, afinal, seu povo está agora sendo restaurado, assim como os muros de pedras de Jerusalém estão sendo reconstruídos. “Vão agora para casa e façam uma festa... porque a alegria do SENHOR é a vossa força” (Ne 8.10).
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         Quantas pessoas pelo mundo afora têm perdido a alegria de viver quando deparadas com as dificuldades da vida em sociedade e das adversidades da natureza... Até protestos violentos têm surgido como conseqüência do caos social acrescido de todo tipo de adversidades como as enchentes e deslizamentos... No Haiti, a população briga por um pedaço de pão...
         Pode parecer contraditório, mas é nesses momentos que precisamos lembrar que é tempo de se alegrar, pois “... a alegria do SENHOR é a nossa força” (Ne 8.10). É ela quem nos fortalece pois Deus não está alheio aos sofrimentos de ninguém. O Senhor sabe o que é padecer, sofrer. Aliás, nós é que não sabemos o que é de fato um sofrimento... O sofrimento pelo qual Jesus passou até ser morto naquela cruz, nós jamais suportaríamos... Esse sofrimento Ele experimentou para que nosso pranto se tornasse em sorriso / alegria, com ele mesmo diz; “... para que a minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (Jo 15.11).
         O Senhor ama transformar nosso pranto em sorriso, nossa veste de tristeza em alegria como testemunha o salmista Davi; “Tu mudaste o meu choro em dança alegre, afastaste de mim a tristeza e me cercaste de alegria” (Sl 30.11).
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         Em meio às ruínas causadas pelo terremoto que abalou Porto Príncipe no Haiti, algo permaneceu completamente intacto em frente aos entulhos do que havia sido uma igreja; a CRUZ. E a imagem fala mais do que mil palavras... Depois da poeira, Depois do clamor, depois do choro Cristo continuava ali... De braços abertos, lembrando que; “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33).
         E esta é a CENA principal hoje; Em pé, diante de uma pilha de escombros que é o mundo, está Jesus Cristo. E nós, o povo, aqui, precisamos olhar para a cruz e crer na sua mensagem que continua sendo a maneira mais peculiar de Deus prestar seu auxílio... Auxílio este, que ultrapassa o entendimento humano, e vence o pecado, a morte e a natureza pecadora... E que pode e deve ser anunciado por nós, a todas as pessoas.
         E esse é o nosso ofício como cristãos neste mundo; enquanto não estivermos soterrados pelos escombros, que cada um de nós tenha o sentimento de compaixão e de amor pelo próximo seja quem ele for. Assim seremos mensageiros da alegria do SENHOR, que é a nossa força e pode ser a força que o próximo também necessita dessa força...
         Nas ruínas da igreja, onde apenas a cruz ficou em , morreu a Dr. Zilda Arns, fundadora da pastoral da criança. O teólogo Leonardo Boff escreveu sobre ela o seguinte; “A Dr. Zilda honrou o cristianismo, vivendo uma mística de amor à humanidade sofredora, de esperança de que sempre se pode fazer alguma coisa para salvar vidas, de fé na força dos fracos que se organizam e na escuta de todos até das crianças que ainda não falam”.
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         Meu irmão e minha irmã! Se chorar, chore aos pés do Senhor!
         No entanto, agora é tempo de se alegrar, pois “... a alegria do SENHOR é a nossa força” (Ne 8.10)... E mais...
         ... “A lei do SENHOR é perfeita e nos dá novas forças...
         Os ensinos do SENHOR são certos e alegram o coração...
         O temor ao SENHOR é bom e dura para sempre...
         Os seus ensinos são mais preciosos do que o ouro...
         São mais doces do que o mel... ”.
         A Cruz de Cristo nos dá o maior e melhor socorro de que precisamos; A certeza de que estaremos um dia diante de Deus, o Pai, na eternidade. A salvo do inimigo como filhos amados de Deus com todos os irmãos na fé em cristo Jesus. Nossa oração seja; “Senhor! Dá-me a alegria da tua salvação...”, “... pois a alegria do SENHOR é a nossa força”. Amém.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Sopa indigesta





Assisti o documentário do Fantástico deste domingo sobre a sopa de plástico que toma conta dos oceanos. É de cortar o coração. Milhões e milhões de toneladas deste lixo tóxico, jogado de forma inconseqüente na natureza, e que tem seu destino no mar. Um lixo que leva centenas de anos para se decompor, que vai se desmanchando em pedacinhos e vira uma sopa. E os animais marinhos, que confundem com alimento, depois ingerem e morrem. Quem viu a reportagem deve ter se horrorizado comigo. Porque é muita, muita sujeira letal descartada no coração da natureza marinha, vida que depende todo o sistema biológico do planeta.
Estou de férias na beira da praia, e além do ensurdecedor barulho eletrônico provocado por exibicionistas em seus carros com som, que faz tremer os tímpanos e a paciência, fico abismado com a quantidade de plástico no caminho até o mar: fraldas, canudinhos, sacolas, embalagens de picolé, garrafas, copos... É um absurdo o desrespeito de gente relaxada. Não consigo ficar indiferente a este jeito irresponsável. Deveria existir multa pesada para isto.  Afinal, todas estas tragédias naturais que estamos vivendo nos últimos dias, em parte são a resposta deste comportamento criminoso.
O problema é que não sabemos viver em sociedade. Procedemos como se estivéssemos sozinhos no mundo.  Qualquer ação pessoal, boa ou ruim, tem efeito no coletivo, seja na vida das pessoas ou no restante da natureza. E já que não somos apenas matéria, isto também vale na vida espiritual. O que está bem explicado num texto bíblico. Ao tratar da interação funcional dos diversos dons na igreja, o apóstolo Paulo busca como exemplo o corpo humano: "Se uma parte do corpo sofre, todas as outras sofrem com ela. Se uma é elogiada, todas as outras se alegram com ela. Pois bem, vocês são o corpo de Cristo, e cada um é parte desse corpo" (1 Coríntios 12.26,27). Depois desta analogia, o escritor bíblico mostra como é possível tal convivência dos cristãos, que são pecadores apesar de carregarem uma nova e boa vontade: "Portanto, esforcem-se para ter amor" (1 Coríntios 14.1). Antes disto,  no capítulo treze, o autor já tinha orientado o jeito prático desta novidade de vida, sobretudo ao dizer que "quem ama não é grosseiro nem egoísta".
Lamentavelmente, esta sopa indigesta de plástico que aniquila a vida nos mares, junto com tantas outras misturas irresponsáveis da ação humana, só vai acabar quando o ser humano não tiver mais nada para jogar no lixo. Pois assim será obrigado a olhar para cima e perceber a besteira que fez. Enquanto isto permanece a promessa bíblica: "Um dia o próprio Universo ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e tomará parte da gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Romanos 8.21).      
(Marcos Schmidt - Pastor Luterano)