No anseio por ser lido, ouvido, comentado e seguido, muitos podem ser tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional.
Há pouco tempo, eu estava numa conferência fora do país quando um dos preletores fez uma afirmação que me despertou do sono. Ele disse: “Vivemos um momento histórico em que pastores e líderes, com o propósito de serem ouvidos, lidos e, principalmente, comentados, estão se tornando reféns da necessidade de surpreender, escrevendo e posicionando-se de maneira pouco convencional.”
Existe hoje no contexto norte-americano uma verdadeira disputa entre celebridades do meio evangélico por atenção e influência sobre as pessoas. Essa disputa se evidencia nas afirmações bombásticas que circulam em vídeos no youtube, nas ideias pouco convencionais veiculadas nos blogs da vida ou, ainda, pelas respostas agressivas e contundentes àqueles que são os agentes das duas primeiras ações.
Como se pode perceber, o fenômeno está diretamente ligado à grande revolução midiática ocorrida nos últimos anos em nossa sociedade. Há 30 ou 40 anos, para um pastor ou líder ser ouvido e comentado, era necessário investir pesado na produção e veiculação de programas de rádio ou TV. No entanto, a internet democratizou a possibilidade de ser ouvido, comentado e acompanhado até em cada passo ou palavra.
Assim, para muitos pastores e líderes da atualidade, a internet se tornou um espaço onde suas palavras ganham uma amplitude nunca antes sonhada. Ali, seus textos são lidos e replicados de forma ilimitada, e suas ideias, seguidas e comentadas quase que instantaneamente por pessoas em todas as partes do mundo. Assim, o horizonte de sua influência passou a transcender em muito o pequeno grupo que, assentado nos bancos da igreja, escuta atentamente seu sermão de domingo.
De certa forma, este cenário representa uma grande oportunidade para evangelização de inúmeras pessoas, para a edificação de discípulos de Jesus espalhados por todo o mundo e para o fortalecimento da igreja numa caminhada saudável e dinâmica. É um grande privilégio para os cristãos de nosso tempo ter à sua disposição um sem-número de sermões, estudos, artigos, discussões e opiniões sobre os mais variados temas, dos mais diferentes autores.
Por outro lado, o mesmo cenário gera uma cultura de ansiedade por ser lido, ouvido, comentado e seguido. Neste anseio, aqueles que fazem uso das novas mídias podem ser constantemente tentados a gerar fatos, escrever o surpreendente ou afirmar o não convencional. Assim, surgem afirmações de que o inferno não existe, de que Deus não é soberano ou que a volta de Jesus é não um evento histórico – e, para não perder a oportunidade de ser lido e comentado, rapidamente surgem as críticas àqueles que fazem tais afirmações, sem qualquer cuidado com o contexto ou o respeito devido a quem pensa de modo diferente.
Em meio a tudo isso, existe o perigo de que pastores e líderes, responsáveis por prover o conteúdo para o ensino e capacitação de discípulos de Cristo, se esqueçam que boa parte de sua tarefa como mestres consiste em repetir. Pastores e mestres do passado gastaram boa parte de suas vidas e ministérios simplesmente repetindo coisas, sem se sentir na responsabilidade de falar algo novo, surpreendente ou espetacular. Eles simplesmente repetiam o que já fora dito na lei e nos profetas, bem como procuravam manter vivos os fundamentos lançados pelos apóstolos.
Mas também existe o perigo de que cristãos usuários das novas mídias não percebam que a própria cultura que envolve tais ferramentas não incentiva a repetição, pois demanda o novo. Assim, os crentes podem se tornar dependentes dessa cultura, esquecendo-se de que parte de nossa consistência e saúde na caminhada cristã envolve a prática de acolher as verdades que já eram verdades para nossos avós e de ouvir novamente o que já foi dito, tantas outras vezes ao longo dos séculos, a outras gerações.
Como pastores e líderes, precisamos estar atentos e nos avaliar sempre acerca do uso que temos feito das novas mídias e da motivação que nos move. Precisamos reconhecer que a linha entre o desejo de simplesmente servir à Igreja de Jesus e a vontade de ser lido, ouvido e comentado é tênue no contexto atual. Todavia, como usuários das novas mídias, precisamos também nos perguntar se aqueles a quem ouvimos, lemos e seguimos estão se tornando reféns do novo ou do espetacular. Estão eles deixando de lado a missão de simplesmente repetir o que já foi dito na lei, nos profetas, pelos apóstolos e pais da igreja? E, se eles passarem a repetir, estaremos dispostos a ler blogs e seguir twitters que só repetem o que já foi dito, sem qualquer surpresa?
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