“Como pode Deus permitir isso?” Uma pergunta que faz sentido quando se crê
que tudo está sob o comando divino. Mas extremamente difícil de entender se
o amor de Deus também é objeto de fé. Tragédias como esta em Realengo, junto
com os dramas globais e diários destacados nos jornais, além dos próprios
sofrimentos, provocam divórcio entre o amor e o poder do alto. Processo que
se transforma em conflito espiritual na vida de qualquer criatura com alma e
corpo. E que, se não for devidamente tratado, fabrica uma mente doentia –
que num desatino, invoca Deus para puxar o gatilho e matar.
Se a desculpa é o bullying, vale lembrar que ninguém escapa de humilhações
na escola da vida. Sistematicamente somos agredidos, intimidados,
perseguidos, por problemas, doenças, luto, dor, tragédias, sofrimento. O
desafio é não revidar, nem contra Deus, nem contra o próximo.
No entanto, não consigo imaginar um pai, uma mãe que perde a filha com um
tiro na cabeça, conformar-se. Nem as melhores amigas de Jesus aceitaram: “Se
o senhor estivesse aqui, o meu irmão não teria morrido” (João 11.21). Nem
Jesus, na extrema agonia da cruz, ficou calado: “Deus meu, Deus meu, por que
me abandonaste?”. Calar-se é não questionar. E quando não há perguntas, não
há respostas. A indignação é a primeira atitude na luta da fé.
E assim, neste “Como pode Deus permitir isso?” surgem algumas certezas, a
partir das Sagradas Escrituras. Que nosso entendimento do divino é limitado:
“Quem pode conhecer a mente do Senhor? Quem é capaz de lhe dar conselhos?”
(Romanos 11.34). Que desabafar é melhor do que reprimir o sofrimento.
Exemplos bíblicos não faltam – Jeremias e Jó, por exemplo. Outro resultado é
a mundana idéia de justiça. Paulo já disse que a cruz é loucura para os que
estão se perdendo (1 Coríntios 1.18). Mas, o maior resultado neste “Deus
contra a parede” é que “os sofrimentos produzem a paciência, a paciência
traz a aprovação de Deus, e essa aprovação cria a esperança. E essa
esperança não nos deixa decepcionados” (Romanos 5.3-5). Então, contra a
parede, Deus nos abre uma porta, Jesus.
(Marcos Schmidt - pastor luterano)
Nenhum comentário:
Postar um comentário