Repare, por exemplo, neste bilhete escrito por um taxista, com o anexo de uma nota de dez reais. O bilhete é autoexplicativo:
“Sra. Moradora Ap. 152 e cliente do Táxi Portal do Morumbi: eu, motorista deste ponto que levou a senhora até o aeroporto, venho por meio desta devolver a diferença de 10,00 (dez reais). Faltou na hora em que lhe dei o troco. OBS: valor da corrida 120,00; a senhora me deu 150,00 e eu só lhe devolvi 20,00 (vinte reais). Peço desculpas pelo erro. Qualquer coisa está em anexo o meu nº de celular. Se precisar, ligue-me para esclarecimentos ou confirme o recebimento desta. Sem mais, obrigado”.
Sem dúvida alguma, foi um gesto bonito e nobre. Sei que todos os relatos desta espécie têm a firme intenção de suscitar a honestidade, propagar a honradez e extirpar a malandragem.
Mas, convenhamos, ser honesto não é (ou pelo menos não deveria ser) algo de outro mundo. Não só por ser uma lei de Deus (“Não furtarás”), mas também pelo dever de consciência para se viver em sociedade. Deveria ser algo normal. A regra, não a exceção.
O que acontece, claro, é que estamos tão acostumados com a ideia tão altamente difundida do “jeitinho brasileiro” que nos esquecemos de que o caminho é outro. Lembram da célebre “Lei de Gérson”? Gérson de Oliveira, então jogador de futebol, num comercial de cigarros da década de 70, declarou: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?” Parece que muitos políticos levaram o comercial a sério.
Quem não gosta de levar vantagem? Números falsificados na declaração do Imposto de Renda, por exemplo? Uma olhadela no livro proibido, embaixo da carteira, na hora da prova? Uma carteira de estudante forjada para pagar meia-entrada? O “corpo mole” na hora do trabalho? Uma balança ou fita métrica adulterada? Pegar emprestado e não devolver? Cobrar juros abusivos aproveitando-se da dificuldade financeira de alguém? Ou ainda pensamentos perniciosos como “Trabalhar nunca matou ninguém, mas pra que arriscar?” ou “Achado não é roubado, quem perdeu é relaxado”?
A “Lei de Gérson” está aí. Ser o malandro, tomar e fazer pose de santo, passar alguém para trás, fazer o errado parecer certo – será que isto é propriamente levar vantagem?
Não. Tudo isto é como pegar um atalho com a ilusão de chegar antes. E, de fato, chega-se antes. Só que ao precipício.
Ignora-se que o escondido dos homens não está oculto a Deus. A trapaça lucrativa incorre em perdas e danos no julgamento ante o Todo-poderoso.
Dias atrás, quando colidi meu carro em outro, sugeri ao condutor lesado que fôssemos a uma oficina para ver o reparo. Vimos o orçamento, concordei e deixei pago o valor do conserto. O dono do carro a quem causei dano olhou-me com surpresa e disse: “Pô, legal você, hein?”
Fui legal porque reparei um erro que eu mesmo causei? Por que fui “honesto”? Tudo bem, eu entendi. Mas a pergunta fica: a que ponto chegamos? Legal, eu?
Não. Legal é Deus, que vê essa ganância e falta de decoro dos seres humanos e ainda está pronto a perdoar quem o busca. Legal é Deus, que deu o Seu Filho para morrer na cruz e perdoar nossas desonestidades. Legal é Deus! Que Ele tenha misericórdia de nós. E que a regra seja regra, e a exceção um exemplo a não ser seguido.
(Pastor Julio Jandt)
Nenhum comentário:
Postar um comentário