domingo, julho 01, 2012

“O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria...”

Leituras - Sl 30; Lm 3.22-33; 2Co 8.1-9, 13-15; Mc 5.21-43

Nova ImagemConta-se que na tribo dos Índios Cherokees que habitavam o leste dos EUA, havia um ritual de passagem da Juventude para a vida Adulta. O ritual acontecia da seguinte forma;

O pai levava o filho para a floresta durante o final da tarde, vendava o seus olhos e o deixava sozinho. O filho deveria ficar ali, sozinho, no topo de uma montanha durante a noite toda, sem remover a venda até a manhã do dia seguinte, ao raiar do sol. Ele não podia gritar por socorro para ninguém. Se ele passasse a noite toda lá, obedecendo às regras, era considerado um homem Adulto.

O jovem que passava por este ritual não podia, de modo algum, contar a experiência aos outros meninos porque cada um deles devia tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido.

Os meninos ficavam, naturalmente, com muito medo. Na densa floresta se ouvia todo tipo de sons estranhos; de animais selvagens; de outros humanos inimigos; de insetos; de cobras que podiam feri-lo. A fome, a sede e o frio fazia parte do ritual. Mas o jovem precisa resistir, firme, sem jamais remover a venda dos olhos até o amanhecer. Para aquela tribo de índios, os Cherokees, este era o único modo do menino se tornar um homem Adulto preparado para a vida.

Finalmente... Após a noite horrível, quando o sol aparecia, a venda podia ser removida, e o Jovem, agora um homem, descobria que seu Pai estivera sentado na montanha, perto dele, a noite toda. O Filho não estivera sozinho, o Pai estava com ele protegendo dos perigos.

O Salmista Davi, no salmo 30, versículo 5, diz; O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria.

A história se repete o tempo todo. Os sofrimentos, medos e as tribulações da vida tentam nos afastar de Deus, mas ele espera confiança e a perseverança de seus filhos em todos os momentos.

Na realidade, o sofrimento, o medo, a angústia e a perseguição não eram para fazer parte da vida do ser humano. Deus não fez a sua principal obra para sofrer. Foi a desobediência do homem, a obra principal, que a afastou de seu criador. Após a queda, Deus disse a Eva que ela iria sofrer; “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos de tua gravidez” (Gn 3.16). E, a Adão, disse; “Maldita é a terra por tua causa. Em fadiga obterás dela o sustento” (Gn 3.17).

Nova Imagem (1)Apesar da desobediência do homem, Deus continua sendo um Pai amoroso, como escreve o salmista; O protetor do povo de Israel nunca dorme, nem cochila(Sl 121.4). Deus olha e vela por seus filhos, ainda que estes não o vejam, por estarem com os olhos vendados.

O texto do Evangelho fala de sofrimentos, angustias de duas pessoas. Trata-se de um Pai que está com a sua filha muito doente, e uma mulher que sofria por causa de uma hemorragia, há mais de doze anos.

O Pai, era Jairo, um integrante da sinagoga dos judeus. Talvez ele fosse alguém que cuidava das finanças, ou algum outro cargo. Ele tinha outras pessoas sob seu comando. Era “Um dos principais...” (Mc 5.22) e ocupava uma posição de destaque, de liderança ali.

Este homem ouviu falar a respeito de Jesus e de seus feitos poderosos e, ignorando sua posição de destaque diante dos fariseus, diante da possibilidade de perder uma filha de 12 anos, ele arrisca tudo, talvez até o próprio emprego e sua reputação na sinagoga, e crê que Jesus pode ajudá-lo. Deposita nele a sua ultima esperança.

Que exemplo de fé foi a deste Pai. Ele confiou que Jesus, até mesmo a distância, poderia curar sua filha, e foi ao encontro de Jesus, e Jesus o acompanhou até sua casa mostrando compaixão, interesse e sensibilidade diante daquele sofrimento. Naquele momento Jairo soube que não estava sozinho, Deus, na pessoa de Jesus, se importava com ele.

Enquanto estava caminhando em direção à casa de Jairo acompanhado de um grande numero de pessoas, uma mulher que há doze anos sofria de uma hemorragia, chegou perto de Jesus e o tocou em sua veste. Essa mulher acreditava fielmente que, apenas de tocar a veste de Jesus, ela ficaria curada. E assim aconteceu. O sofrimento de doze anos passou no mesmo instante.

Nesse mesmo momento apareceram alguns mensageiros da casa de Jairo com a pior notícia que um Pai poderia ouvir; não havia mais nada que pudesse ser feito, a menina, sua filha, havia falecido. Até a esperança havia acabado. Já não precisavam mais incomodar o mestre.

Parece que não há mais alternativa. O medo, o desespero, o sentimento de perda tomaram conta daquele pai de família de forma semelhante ao medo manifestado por Davi no salmo 30, versículo 7; Ó SENHOR Deus, tu foste bom para mim e me protegeste como uma fortaleza nas montanhas. Depois tu te escondeste de mim, e eu fiquei com medo. Jesus, porém, vendo a reação de Jairo, lhe pede apenas uma coisa; ‘Não tenha medo, apenas creia’.

É isso que Jesus também espera de nós. Quando nossos olhos vendados não podem ver o Mestre ali, na montanha, nos olhando, ficamos com medo. Mas Jesus nos diz; ‘Não tenha medo, eu estou aqui. Acredite’. O problema é quando, não são apenas os olhos estão tapados, mas os ouvidos também...

Contrariando a expectativa e a descrença daqueles que lhes trouxeram a notícia da morte da menina, Jesus continua a caminho da casa de Jairo e lá, com uma ordem; Talitá Cumi!, a menina se levanta, causando admiração em todos.

Como Jairo e aquela mulher da hemorragia, também passamos e ainda passaremos por sofrimentos inesperado como a perda de pessoas queridas, doenças, angustias e perseguições. Mas é nestes momentos que podemos contar com o nosso Pai Celeste nos olhando, e cuidando de nós.

Quando o Apóstolo Paulo finalmente compreendeu que os próprios sofrimentos da vida estavam ajudando para fortalecer a sua fé, ele pode dizer com toda a convicção que; “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.38 e 39).

Por isso, irmãos, ainda que passemos por estas dificuldades, sairemos dela fortalecidos, como homens maduros ∕ Adultos, a exemplo de Paulo que reconheceu, em seus sofrimentos, a Graça de Deus, e pode dizer; “me sinto muito feliz em me gabar das minhas fraquezas, para que assim a proteção do poder de Cristo esteja comigo. Eu me alegro também com as fraquezas, os insultos, os sofrimentos, as perseguições e as dificuldades pelos quais passo por causa de Cristo. Porque, quando perco toda a minha força, então tenho a força de Cristo em mim” (2 Co 12.9 e 10).

Meus irmãos! Pela fé podemos crer que a luz de Deus está adiante, na montanha, ainda que nosso caminho seja escuro. E, mesmo que nossos olhos estejam vendados, podemos ouvir a voz de Deus. E esta voz nos diz que nosso protetor nunca dorme, nem cochila.

O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria...” (Sl 30.5).

Amém.

(P. Élvio Nei Figur – 29∕06∕2012)

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