De uns tempos para cá tem sido assim: a nossa vida tem ficado cada vez mais virtual, e menos real. Há lucros, obviamente. Mas também há prejuízos.
Aprendemos a enviar abraços em conversas instantâneas, mas desaprendemos o calor do abraço físico. Temos mais informações e nos comunicamos com mais rapidez, mas há menos tempo para sentar ao lado de alguém e ouvir seu desabafo. Enviamos emoticons afetivos, mas não ouvimos o pulsar do coração do outro lado da tela. E-mails substituíram aquelas cartas de casais apaixonados, com direito ao cheirinho do perfume naquelas páginas escritas a mão. Igrejas estão vazias porque o pastor do ministério tal ministra seus cultos online, e a comunhão é apenas um detalhe, ausente, diga-se de passagem. Cada vez mais sabemos sobre as pessoas em seus perfis nas redes sociais, mas cada vez menos as conhecemos realmente, olho no olho. O corre-corre diário substituiu a conversa com os filhos por um SMS no smartphone.
Não sou um sequaz frustrado do saudosismo. A internet é uma realidade, praticamente uma necessidade.
Mas, diga-se também, seu abuso tem feito muito mal para a humanidade.
É preciso voltar à realidade. Amor é real, não virtual.
Isso me lembra a história daquele menininho de rua que não sabia o que era virtual, até que uma senhora lhe explicou: “Virtual é um local que imaginamos, que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que ele fosse”.
Sabe o que o pequeno respondeu? “Meu mundo também é desse jeito... virtual. Minha mãe trabalha, fica o dia todo fora, só chega muito tarde, quase não a vejo... eu fico cuidando do meu irmão pequeno que chora de fome e eu dou água para ele imaginar que é sopa... minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, pois ela sempre volta com o corpo... meu pai está na cadeia há muito tempo, mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos, Ceia de Natal e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isso é virtual, né, tia?”
Fico pensando se Deus, do alto de sua glória, decidisse salvar a humanidade por meio de um memorando assinado eletronicamente. Seria vencido o diabo? Seria paga a dívida?
Meu caro, a sua dívida foi paga com sangue real, de uma pessoa real, numa cruz real, numa sexta-feira sombria e real.
Além do mais, o amor foi tão real que o próprio Deus se fez um de nós. Homem real, de carne e osso, e Deus real, eterno e poderoso. O próprio Rei.
Está na hora desse amor real e Real se tornar menos virtual na nossa vida. Talvez assim o prejuízo real diminua.
(Pastor Julio Jandt - IELB)