O Crucifixo, pendurado no calendário da Semana Santa, sempre foi proibido nos tribunais da lógica. A razão remove da parede a divindade e humanidade do Cristo morto e ressuscitado. Impedimento já no primeiro século quando o gnosticismo invadiu a igreja com um Jesus encarnado numa emanação terrena de Deus – uma roupa que Ele usou e jogou fora. Prevenida, a igreja logo formulou os três Credos: “É Deus, da substância do Pai, gerado antes dos tempos, e Homem da substância de sua mãe, nascido no tempo” (Atanasiano). Tudo para sublinhar as palavras: “Mas quem nega isso a respeito de Jesus não tem o Espírito de Deus; o que ele tem é o espírito do Inimigo de Cristo”(1 João 4.3).
Os racionalistas, por isto, estão cobertos de razão. O Cristo que entra em Jerusalém no lombo de um burro não é “dois mais dois igual a quatro”. É “dois mais dois igual a cinco”. É um Cristo absurdo, incoerente, inconsistente... A própria Bíblia se entrega e diz que “Cristo na cruz é loucura”. Mas ela observa que, se é loucura para os que se perdem, é poder de Deus para os que são salvos (1 Coríntios 1.18). Por isto “credo” – do latim “eu creio”. Creio e pronto. Creio e não discuto, nem tento entender. Creio e testifico aquilo que me dá esperança num mundo sem esperança, que “em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus (...) que anulou a conta da minha dívida (...) pregando-a na cruz” (Colossenses 2.9,14). Creio num crucifixo que ficou vazio, creio num Deus sem túmulo – o grande diferencial da fé cristã. Ao contrário do que escreve Paulo Sant`Ana no artigo Túmulos: “Se Jesus não tivesse ressuscitado e tivessem sido preservados seus restos mortais, imaginem as romarias que os cristãos fariam todos os anos, vindos de todas as partes do mundo para visitar o túmulo de Cristo”. Romarias para um Deus morto? Bem disse outro Paulo: Se Cristo não foi ressuscitado, a fé é uma ilusão (1 Coríntios 15.17). Apesar de tudo, eu creio...
Marcos Schmidt
pastor luterano
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